
Muito se tem falado dos quadros de Miró que estão para ser vendidos pelo Estado português. Sempre fui defensor da indústria cultural, como forma de desenvolvimento do país e fonte de receita. Tirei o curso de Belas Artes, Pintura, na Faculdade do Porto e, como tal, confesso que gosto de ver boa pintura e todo o tipo de manifestações artísticas, para ficar por aqui e não me alargar com outro tipo de tretas que não vão interessar a mais ninguém. Já vi muitas obras de Miró, mas sempre lá fora. Tal como eu, muitos portugueses ignoravam que houvessem tantos trabalhos de Miró em Portugal. Nunca tinham sido vistos e nem iriam ter oportunidade de virem a ser vistos pelo comum dos mortais se o raio do banco dos nossos amigos… vigaristas, não tivesse dado no que deu… Estavam numa caixa forte e por lá iriam continuar…
Este tipo de obras são muito valiosas. Não é novidade para ninguém. São um verdadeiro investimento. Muito lucrativo e sem qualquer tipo de risco. Quando estão numa caixa forte, o risco de serem roubadas é muito pequeno mas, quando fazem parte do espólio de um qualquer museu… a possibilidade de poderem ser roubadas, por um larápio qualquer… aumenta exponencialmente. Quero com isto dizer que este tipo de “material” requer um espaço condigno e com segurança. Haverá um espaço com as características necessárias para receber estes trabalhos? Eu não sei,muito sinceramente, se há algum disponível ou se teria de ser construído de raiz… Alguém me sabe dizer? É que são situações totalmente diferentes…
Na situação actual do país, em que os cortes na cultura são abismais, já para não falar nas restantes áreas da vida portuguesa, é muito difícil encontrar a verba necessária para construir um museu de raíz. Numa altura em que a maioria dos portugueses já vendeu o ouro que tinha disponível para pagar as contas ou para, muito simplesmente, conseguir sobreviver… não parece muito aceitável que o Estado se dê ao luxo de perder uma receita elevadíssima com a venda em leilão das obras de Miró. Nem de longe nem de perto me identifico com o bando de incompetentes que governam este país e gostaria muito de poder apreciar estas obras num qualquer museu português mas se calhar, muito se calhar… com esse dinheiro poderiam apoiar uma data de outras manifestações artísticas em Portugal. Posso parecer ingénuo e o mais certo é que o dinheiro proveniente da venda será para tapar um outro buraco qualquer, mas gostaria de acreditar que aqueles tipos teriam a decência de aplicar o guito na mesma área…
Por outro lado, e como solução ideal (pelo menos para mim…), também não seria má ideia que os ditos governantes deste país fizessem um decreto lei qualquer, mal amanhado (assim como assim, já estão habituados a fazerem leis manhosas…), em que obrigassem todos os accionistas que lucraram com a venda/troca/falcatrua de acções do banco a terem de se quotizar para conseguirem juntar um dinheirinho e poderem ser eles a comprar as obras do Miró. Parece-me justo pois já que foi por causa deles que estamos neste monumental buraco, também não seria mau de todo compensá-los com a compra de umas quantas obras de arte. É que o crime compensa e até já consigo vislumbrar o brilhozinho nos olhos da nossa Maria só de pensar na possibilidade de ter lá, na sua vivenda, uma telazita de um tal senhor famoso… a combinar com a cor dos sofás e do tapete que ficaria por baixo, para que pudessem contemplar, de pé, mas com os pezinhos quentes…